Semanas atrás recebi o seguinte recadinho na agenda do Vinícius: "-Mãe, hoje o Vinícius foi mordido por uma coleguinha, o encaminhamos para enfermaria para aplicar uma pomada no local e ele ficou bem. Estaremos conversando com os responsáveis da criança que o mordeu."

A primeira vista me assustei com o causo, -como assim meu príncipe foi mordido? Mas depois demos muitas gargalhadas dele nos contando sobre o dodói. Isso é algo completamente novo para nós, pois os dois desconheciam esse lance de morder, das poucas vezes que houve um impulso de mordida, intervíamos e não passava disso. A escola já havia nos alertado sobre essa possibilidade, afinal as mordidas são comuns nessa fase e na maioria das vezes esse comportamento é apenas uma forma de expressão, que no caso do Vini foi mesmo! Pois ele ao contrário do Gabriel, não é muito fã de "agarramentos" ele tem esses momentos pontuais, do tipo que quando quer, quer, mas quando não quer, mantenha distância! Conversando com a professora sobre a "mordedora" em questão, soube que ela é um poço de carinho, mas vive levando "passa fora" do Vini, tadinha. Então para chamar atenção do meu príncipe nipônico largou-lhe um Nhac naquela mão gostosa e irresistível! (quem mandou ser lindo?). Na real não sei se é pior estar do lado do mordido ou do mordedor, mas sei que com paciência e muita conversa a criança vai se moldando e esse "extinto" desaparece.
E vocês já passaram por isso? Seguem algumas dicas tiradas daqui, que nos ajudará a lidar melhor com essa fase.
Bjs Ju
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COMO LIDAR COM A FASE DAS MORDIDAS
O coleguinha de
classe não quis dividir o brinquedo? Nhac! A mãe está grávida de um irmãozinho?
Nhac! Ninguém dá a atenção exigida? Nhac!
Mais do que uma
reação de raiva, as mordidas dadas pelas crianças pequenas, com até 2 ou 3 anos
de idade, são uma forma de comunicação e de expressão de sentimentos.
"Nessa primeira etapa da vida, a criança ainda não domina a linguagem.
Então, a forma que ela tem para se expressar, para se comunicar e interagir com
os outros é pelos meios físicos, como morder, bater, puxar o cabelo",
explica Marilene Proença, membro da diretoria da Associação Brasileira de
Psicologia Escolar e Educacional (Abrapee) e professora do Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo.
O fato de as
mordidas fazerem parte de uma fase do desenvolvimento das crianças não
significa que elas devem ser ignoradas ou aceitas pelos pais. Conheça abaixo um
pouco mais sobre essa fase e veja as dicas dos especialistas para saber como
lidar quando seu filho é a vítima da mordida ou quando é o autor da dentada em
um coleguinha da escola ou mesmo em um adulto.
Enquanto ainda não sabem falar com
desenvoltura, as crianças utilizam outros meios para se expressar e para se
comunicar. A mordida é uma delas. "As crianças na idade oral ainda não
verbalizam com fluência e a linguagem do corpo acaba sendo mais eficaz",
diz Rosana Ziemniak, coordenadora de Educação Infantil do Colégio Magister, de
São Paulo.
"Nessa fase em que as crianças ainda
não têm domínio da fala, as manifestações corporais são usadas para manifestar
descontentamento, alegria, descobertas", diz Marilene Proença , membro da
diretoria da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional
(Abrapee) e professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São
Paulo.
Rosana Ziemniak acrescenta: "O que a
criança deseja ao morder um amiguinho não é agredi-lo, mas sim obter de forma
rápida algum objeto ou chamar atenção". As mordidas, segundo Marilene
Proença, são usadas em situações diversas, e a criança vai avaliando quais os
efeitos que as mordidas têm: "A criança morde e depois vê o que acontece.
Por exemplo, se ao morder ela consegue o que quer, qual é a reação do outro",
comenta Marilene.
Segundo Rosana Ziemniak, coordenadora de
Educação Infantil do Colégio Magister, de São Paulo, a fase oral - assim
denominada pelo pai da psicanálise, Sigmund Freud - é uma etapa do
desenvolvimento que vai do nascimento até por volta de dois anos de idade.
"Nessa fase, é comum vermos crianças dando mordidas ao primeiro sinal de
estresse. Este é um dos mais importantes e mais primitivo estágio do
desenvolvimento infantil, quando a criança ainda é egocêntrica, ou seja,
acredita que o mundo funciona e existe por sua causa", explica Rosana.
"Sendo assim em sua concepção, tudo que deseja deve ser prontamente
atendido e, quando isso não ocorre...nhac!", diz a coordenadora,
acrescentando que nessa idade as necessidades, percepções e modos de expressão
da criança estão concentradas na boca, lábios, língua e outros órgãos
relacionados com a zona oral.
As crianças não nascem sabendo dar
mordidas, assim como não nascem sabendo dar tapas ou puxar o cabelo. Quem
ensina as crianças a morder, beliscar ou a bater são os próprios adultos e as
crianças mais velhas, conforme explica Marilene Proença, membro da diretoria da
Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (Abrapee) e
professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. "Essas
ações se aprendem na relação com outras crianças, com os adultos. Os adultos
têm esse tipo de brincadeira, dizendo "vou morder você, vou apertar sua
bochechinha". A criança assiste a essas formas de comunicação e a partir
daí vai usando esses meios para se comunicar também" diz Marilene.
Várias situações podem levar a criança a
morder. "Em uma classe na escola de educação infantil em que a professora
está grávida, por exemplo, pode haver um sentimento nas crianças de perda ou de
abandono, em vista do bebê que vai chegar. O mesmo em casa, se a mãe está
grávida do irmãozinho", comenta Marilene Proença, da Abrapee, Outras
situações citadas por ela são a mudança de sala na escola, a disputa por um
brinquedo ou mesmo pela atenção de outras pessoas.
Quando a criança morde outra pessoa, é
importante a mediação de um adulto, para fazer com que ela reflita sobre o que
fez e para que entenda que há outras maneiras de conseguir o que deseja.
"O adulto deve mostrar à criança que há outros meios de expressar-se ou de
conseguir o que se quer. Pode-se dizer, por exemplo: 'se você não gostou do que
ele fez, vamos dizer isso a ele', ou 'você quer o brinquedo? Então vamos pedir
o brinquedo'", diz Marilene Proença, membro da diretoria da Associação
Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (Abrapee) e professora do
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
A especialista afirma que o adulto deve
mostrar à criança que a linguagem é a forma certa de se obter as coisas.
"O papel do adulto é transformar a atitude corporal em uma atitude mediada
pela linguagem. Esse é um grande objetivo da educação, tanto na escola quanto
em casa", explica ela. Quando esse ensinamento não é dado logo cedo, as
crianças crescem e mantém as atitudes corporais para conseguir o que querem. É
o que se vê quando crianças mais velhas se atiram no chão e fazem escândalo
quando são contrariadas.
A mordida é sempre uma situação difícil
para os pais de ambas as crianças, diz Rosana Ziemniak, coordenadora de
Educação Infantil do Colégio Magister, de São Paulo. "Os pais da criança
mordedora sentem-se envergonhados e os pais da criança mordida ficam chateados
pelo machucado do filho. Cabe à escola mediar as relações entre as crianças e
seus familiares para minimizar os sentimentos negativos e criar situações para
estabelecer limites, mostrando a importância do respeito e do tratar bem o
amigo que ficou triste por ter sido machucado", diz Rosana. Ela acrescenta
que tanto a escola quanto os pais devem aproveitar essas situações para ensinar
à criança as regras de convivência.
Marilene Proença, da Associação Brasileira
de Psicologia Escolar e Educacional (Abrapee), concorda e diz que os pais não
devem aceitar a ocorrência da mordida como uma coisa rotineira. "O ideal é
procurar a coordenação da escola, dizer que isso não pode acontecer e procurar
entender o que houve para gerar essa situação", comenta ela. Rosana
Ziemniak acrescenta que a criança mordida deve ser acolhida e incentivada a
expressar seu descontentamento, porém nunca deve ser incentivada a revidar, ou
seja, a morder também.
"Apesar de, na maioria das vezes, a
mordida fazer parte do desenvolvimento natural da criança, em alguns casos,
este comportamento pode sinalizar um problema de ordem emocional", diz
Rosana Ziemniak, coordenadora de Educação Infantil do Colégio Magister, de São
Paulo. "Se estas mordidas passam a ser frequentes, a criança pode estar
insatisfeita, ansiosa, com sentimento de rejeição ou tentar chamar a atenção
através da agressividade. Quando isso acontece, a família e a escola precisam
acompanhar de perto e com atenção para descobrir as possíveis causas e
dependendo do caso, é importante buscar a ajuda de um psicólogo", explica
ela, acrescentando, porém, que os casos de ordem emocional não são em si a
maioria.